domingo, 20 de maio de 2012

Trocada por um “baba”

Algumas pessoas não sabem, mas “baba”, aqui na Bahia, é a famosa “pelada”, também conhecida como, o futebolzinho com os amigos. Este, aliás, é o maior trauma que nós, mulheres, sofremos com os homens.  E olha que eu adoro futebol. Assino PFC há cinco anos e sempre vou ao estádio ver jogo do Bahia, embora meu time do coração seja o Flamengo (que fique bem claro). E não é porque o Flamengo é rubro-negro sou obrigada a torcer pro Vicetória. Não. De jeito nenhum. Aqui, eu gosto é do Baêa Minha Porra.

Andei ficando com um cara todo enrolado, que é torcedor fanático do Bahia e que adora um baba com os colegas, depois do expediente, em plena sexta-feira. Ele não é essas coisas todas, mas é gente boa, trepa direitinho, tem bom gosto e, na falta de homem no mercado, seria um ótimo candidato ao cargo de namorado. Aliás, do jeito que as coisas andam, qualquer um é um ótimo candidato a esse cargo. É, gente. Tá difícil. Até os piores dos mais ou menos andam esnobando. 

Pois bem. Ficamos ficando durante umas boas semanas e tínhamos combinado de sair na sexta. Ele mesmo tinha proposto essa saída. Íamos a um samba. Tudo certo, eu, já em casa, pronta para começar a me arrumar, quando toca o telefone. Era ele, dizendo que ia ter que adiar nosso sambinha, porque os colegas chamaram para um baba depois do trabalho e que se não fosse, o time ia ficar desfalcado e ia acabar não rolando o jogo.

Agora vejam vocês. Ou eu sou chata, ou trepo mal, ou o repertório de desculpas esfarrapadas dele estava esgotado e ele me veio com essa, ou o cara é veado mesmo.
Gabi
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O retratista do super zoom

Conheci, há pouco mais de um ano, aquele que viria a ser o homem da minha vida. Mas ele não me conhece. Foi no show do Caetano Veloso com a Maria Gadu, na Concha Acústica. Ele estava fotografando. Ele, que tem todos os predicados que eu sempre idealizei em um homem. Um jeito largado, alto, magro, barba por fazer, traços e expressões marcantes, mãos grandes e um rosto para mulher e homem nenhum botar defeito. Sem contar que eu tenho um certo tesão por fotógrafos e este tem cara de que tem boa pegada. 

Ele, meu retratista, a quem eu me referia como o fotógrafo da lupa gigante, até descobrir que não é lupa, mas zoom. E que zoom! A partir desse dia, procurei por ele em todos os shows a que fui, aqui em Salvador. Sempre o via fotografando, lindo, sozinho, passando de um lado para o outro, em meio ao aglomerado de pessoas, e eu, com os meus olhos, a fotografar cada detalhe, cada traço do seu rosto, cada passo que ele dava. 

Um belo dia, num belo show, depois de belas latas de nova schin (odeio nova schin, mas era o que tinha), com o olhar fixo nele, caminhei em sua direção e perguntei seu nome. Ele, educadamente, se apresentou e me deu aqueles tradicionais dois beijinhos. Brinquei com ele, falando que éramos primos, porque temos o mesmo sobrenome. Depois fiquei sem graça com a merda que acabava de largar, agradeci, falei outra merda maior ainda, dizendo que, a partir daquele dia, nunca mais me referiria a ele como o fotógrafo do super zoom. Pelo menos ele achou graça, ou fingiu ter achado, porque riu. Retribuí a gargalhada e saí em seguida. O show já tinha terminado, ele devia estar cansado e eu, bêbada, consegui usar o bom senso. Se tivesse tentado prolongar o assunto, ia acabar me declarando ali mesmo, com frases do tipo "você é meu sonho de consumo". Não ia ser legal. Não ia mesmo.

Meses depois, me deparo com ele no show da Silvia Machete, no Pelourinho. Dessa vez não esperava encontrá-lo. Fiquei igual a uma abestalhada, diante dele, paralisada. Não enxergava mais nada além dele. Foi nesse dia que eu tive a certeza de que ele era o homem da minha vida. Meu coração acelerou, eu suava frio, minhas pernas tremiam e eu não consegui mais prestar atenção no show. Ele invadiu meu coração e meus pensamentos sem dó nem piedade. 

Adicionei no facebook e ele aceitou minha solicitação. Nunca trocamos uma palavra, desde então, e até hoje fico paralisada na sua presença. A última vez que isso aconteceu foi no show da Márcia Castro, no Teatro Castro Alves. No final, ele passou por mim e eu fiquei petrificada. Não conseguia parar de olhar. Acho que ele percebeu. Deve ter achado graça.

Deby

Quem não tem cão, come pão com macarrão

Essa onda de chuvas em Salvador vai acabar me deixando em forma e desnutrida. Hoje é domingo e, desde quarta-feira, chove sem parar. Até sexta ainda tinha comida descente em casa. De lá para cá, eu me viro com o que tem. É que eu não dirijo e, consequentemente, não tenho carro. Ando à pé ou de busão. E, assim, ir ao mercado está inviável. De vez em quando, ando de táxi, mas o taxista ficaria puto se tivesse que fazer uma corrida da minha casa até o mercado. Não daria cinco reais. Para se ter uma ideia da distância, à pé, eu chego lá em menos de cinco minutos. 

Desconfio que de sexta para cá eu tenha emagrecido uns dois quilinhos. Minha barriga está retinha, minha cintura mais fininha e o short que eu vesti pela manhã está mais folgadinho. Pelo menos para isso tem servido esse exagero de diurético que São Pedro anda tomando pelas bandas de cá. Ontem comi as últimas fatias de queijo com pão de forma. Não tem mais leite e o suco de pêssego acabou na quinta. Tive que fazer café, que também já acabou. Daria tudo por uma panela de brigadeiro agora.

Hoje, para improvisar, fiz chá de erva cidreira e coloquei na geladeira. Tomei uma caneca de chá gelado o dia todo. Pensei em pedir comida chinesa, que é o que sempre me salva em momentos de dispensa vazia, mas fiquei com dó dos entregadores, por causa da chuva forte e da ventania.

Na minha geladeira tem maionese, um patê horrível de sardinha, pão de forma e geleia de pimenta, ardida pra cacete. Fuçando o armário, achei macarrão. Mas temperar com o quê? Alho e óleo foi o que um amigo, no facebook, me sugeriu. Mas cadê o alho? Não tem. Tem ervas de saquinho: alecrim e orégano. Também tem caldo knorr, açafrão, pimenta do reino, cominho e fondor. Dá pra fazer uma sopinha precária de macarrão, mas o que eu queria mesmo era aqueles biscoitinhos que vende na delicatessem há dois quarteirões daqui.

Fui tomar banho, para preparar minha iguaria e comer enquanto assistia a mais um episódio inédito da última temporada de Desperate Housewives. A luz da cozinha queimou e eu improvisei com a luminária que uso para estudar. Na panela, água, sal, orégano, alecrim, fondor, pimenta do reino, cominho, mais fondor e caldo knorr. A água foi fervendo e o cheirinho subindo. Cheirinho bom. Coloquei o macarrão, esperei cozinhar, fiz mais chá, para tomar gelado, torrei duas fatias de pão de forma e pronto. Para dar um gostinho melhorzinho, misturei um pouquinho de maionese, coloquei no prato e um click para a foto. Bonito não ficou. Ruim também não. Nem bom. Mas pelo menos matei minha fome. De sobremesa, um chiclete que eu achei perdido na bolsa.

A previsão do tempo para amanhã é chuva o dia todo de novo. Não vai rolar de ir ao mercado, minha cozinha vai continuar com a luminária e em vez de ter dó de entregador, vou ter dó do meu estômago e pedir uma bela comidinha chinesa, banana caramelada de sobremesa e quatro heinekens long neck, para tirar a barriga e o fígado da miséria.

Tá fazendo um friozinho gostoso. Na falta do chocolate quente, acendi um cigarro e fumei.

Renata


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Olha a luz no fim do túnel aí, gente!

Minhas amigas solteiras, desesperadas, à procura das suas tardes de domingo, daquele cobertorzinho de orelha, daquela conchinha para se encaixar à noite, daquele carinho nas costas, do bafinho matinal, da boa e velha cara-metade, da tampa da panela, da pantufa velha para os pés frios e cansados, daquele homem que te vire do avesso, te jogue na parede e te chame de lagartixa todos os dias, ou, simplesmente, de alguém para chamar de "meu bem": não se desesperem. Há luz no fim do túnel.


Ouçam os conselhos do padre e sejam felizes!



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Beijo, Calcinhas.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mais de mim


Falar de mim só vai estragar qualquer resquício de boa imagem minha que ainda resta. Eu já ando cansada de tanta coisa, como esperar, como ficar “pisando em ovos”, por medo de estar fazendo alguma coisa errada e, justamente por causa disso, fazer e falar tanta merda como eu faço e falo, falar cosias pensadas, mas que soam o contrário, como tentar ser legal para ser aceita pelas pessoas e às vezes deixar minha essência de lado em nome dessa aceitação plástica.

Minha identidade se perdeu e eu não sei mais quem sou. Não adianta me dizerem “seja você mesma”, mostre-se como você realmente é, porque foram tantas as máscaras usadas ao longo da minha vida que já não consigo desentranhá-las de mim. Minha personalidade se tornou falsa e eu não sei mais se tenho alguma essência ou se minha essência, hoje, é criar essências de mim mesma. Talvez eu seja essencialmente complicada. A verdade é que, há muito, eu ando perdida, arrastada pela solidão que me leva ao caminho do desespero e que, por sua vez, tem me levado, aos poucos, à loucura.

E é assim que sigo, louca, sozinha e ainda com a esperança ínfima de que isso um dia vai mudar.

Amanda


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